Os pés no chão sólido

Sim, a influência da música hip hop na cultura pop norte-americana é inegável. Sim, estamos soterrados de divas que assumem papéis femininos estereotipados, figuras submissas e rebolativas a entoar frases como "Venha garoto, você não é 'grande' o suficiente" ou a famigerada melô do  Santo Antônio que veio do Mayflower, "Todas as solteiras, mãos pra cima" - é tudo mesmo a respeito de assaltar falos e os fazer mandar.

No meio dessa repetição enfadonha - e totalitária -, eis que surge uma quase-diva sem muitos seguidores. Cyborg com histórias humanizadas. Negra, pós-feminista e musical. No interior do discurso da fêmea tola, essa figura destoante e "altissonante" leva o nome de Janelle Monáe.

Janelle Monáe

Já no primeiro EP, de 2007, "Metropolis, the chase suite", a mocinha dizia a que veio. Produzida pelo não menos visceral senhor Big Boy do Outkast - cujo "Speakerboxxx/ The love below" expandiu os parâmetros de qualidade do filão rap/hip hop, com uma mistura de eletrônico e rock, que mais tarde foi assimilada por Kanye West  -, Janelle aparecia, qual David Bowie da década de setenta, como uma criatura, o "Alien from outspace", dando forma à uma saga musical que não haveria de acabar por ali.

Debut realizado, nesse ano de 2010 a senhorita juntou-se novamente a Big Boy, contando ainda com a luxuosa colaboração do Of Montreal, e lançou o épico retumbante "ArchAndroid", disco explosivo que não apenas repete aquela espécie de orquestração black do anterior, mas aprofunda uma musicalidade refinada e experimental.

Aclamada pela crítica - os rewiews internacionais colocam Janelle como "a" grande moçoila do ano -, a cantora fez David Letterman corar numa apresentação ao vivo nesse ano. Queixo caído, Letterman não escondeu a confusão daquele arroubo cênico, um sopro de inteligência e sutileza no meio da confusão das fêmeas tolas do "pop hip hop" norte-americano.

Janelle Monáe - iTunes

Janelle Monáe - MySpace


Janelle Moanáe - Tightrope (Late Show Live)