sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Para vitrolinhas filosóficas

Antony Hegarty é um sujeito singular: dono de uma voz sonoramente melancólica e tematizando a morte, a transformação e as variantes de gênero mais provocadoras - é ele que canta "When I'll grow up, I'll be a beautiful woman" -, criou em Nova Iorque uma das bandas mais aduladas e experimentalmente desoladoras dos últimos tempos, o "Antony and the Johnsons".

Antony Hegarty


Os meninos já haviam lançado três álbuns elogiados e premiados - dentre os quais o irretocável "I'm a bird now", de 2005, que estampa na capa a moribunda pop-drag Candy Darling - e, há pouco, lançaram o último cd, "Swanlights". Como de costume, o desfile das faixas preza pelos espinhos e metamorfoses, possíveis e impossíveis.

Nesse caso, porém, alguma mudança ocorre na sonoridade da banda: mais melódicos e, de certo modo, mais "esperançosos", os garotos liderados por Antony chegam mesmo a entoar uma semi-balada romântica - em "I'm in love" -, passam pelas vozes de Antony mescladas em coro na incrível "Ghosts", e ainda garantem um dueto (repetido, já que Antony participara do "Volta", da islandesa) com a sempre impressionante Bjork roubando a cena entre Antony e um piano crescente.

Em tempos de tentativas de disciplina & estabilidade, o "Swanlights" abre-se narcisicamente, como ferida: é preciso ouvi-lo como que apontando para o transcendente, segundo a regra de um problema não findo. No caso de Antony, as agonias transsexuais cada vez mais se universalizam numa sonoridade quase icônica de dor e ultrapassamento. 


Antony and the Johnsons - iTunes

Antony and the Johnsons - MySpace

Antony and the Johnsons - Hope There's Someone (Live , 2005)






Em tempo: um dos cartazes do Sinestésicos traz a capa do cd "The crying light", de 2009.

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