Poeira das estrelas?

Era 1968 e aqui no Brasil rolava uma bossa. Mas lá pras bandas inglesas, um sujeito de olhos bicolores estava iniciando uma das mais interessantes carreiras do rock/pop/pós-tudo que já se viu. O rapaz já tinha gravado uma canção chamada Space Oddity, que viria a ser um desses clássicos pra qualquer aficcionado em cultura pop - como esquecer do Major Tom dizendo "Planet Earth is blue and there's nothing I can do".

David Bowie - 1966

Embalado pela corrida espacial da Guerra Fria, esse inglês de nome David Bowie iniciou, então, sua epopéia de transgressão, glitter rock e atitude camaleônica: em 69, virou o extra-terrestre ZiggyStardust, que morreria sem deixar vestígios. Das suas orgias musico-sexuais participaram Lou Reed e muita gente da Factory, do Andy Warhol.

Foi nesse tempo brilhante que Bowie lançou dois de três discos fundamentais: "Hunky Dori", "The Rise and Fall of Ziggy Stardust and Spiders From Mars" e o "Aladdin Sane" - aquele da capa copiada até pela pobre Lady Gaga. Só com esses três álbuns, toda uma discografia pop-rock pode ser ouvida: no primeiro, escuta-se de "Life on Mars", a música anti-Mickey e anti-tudo, passando por "Quicksand", "Kooks" e "Changes", tudo no mesmo disquinho. O segundo tem "Starman" (aquela que ganhou horrenda versão em português nos 80') e a própria "Ziggy", o que toca a guitarra. O terceiro álbum, que começa pela capa icônica já citada, valia só por "Jean Genie".

A questão é que a obra de Bowie não acaba ali: não bastasse a confusão de gênero das capas, o abuso da atitude e tudo aquilo que faz a alegria dos outsiders - Bowie aparece até no filme "Cristiane F." -, o inglês ainda se aventurou de modo peremptório pela música eletrônica , que acabava de surgir na Alemanha, fazendo o ainda referencial "Low". E teve tempo de sobra pra se divertir nos anos oitenta, devidamente americanizado, cantando bobagens disco como "Let's Dance" ou "China Girl".

Ainda que hoje o mocinho esteja naqueles silêncios constrangedores, o fato é que cada álbum do Sr. Bowie ainda merece uma audição atenta, uma alegria nada duvidosa e a sensação de uma dívida eterna das vitrolinhas pop-rockers.

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David Bowie - Life on Mars? (clip)