Por Andrei Vanin
O polonês Krzysztof Kieslowski começou sua carreira produzindo documentários de TV. Seu primeiro longa foi Blizna (1976). Em 1978, produziu o conhecido documentário Z punktu widzenia nocnego Portiera. Um ano depois, lançou Amador, que foi muito bem recebido na Polônia e no exterior. Sua obra de maior expressão – por sinal a última - foi a Trilogia das Cores.
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Kieslowski filma. |
A Trilogia... foi produzida no contexto do bicentenário da Revolução Francesa e pelo momento político vivido pela Europa - a comemoração da assinatura do tratado de Maastricht, que instituía definitivamente a Unificação Européia. Inspirada pelo lema da Revolução e pelas cores da bandeira francesa, é constituída pelos filmes A liberdade é azul (1993), A igualdade é branca (1994) e A fraternidade é vermelha (1994).
A liberdade é azul,o primeiro da trilogia, tem como foco principal a vida quase que trágica de Julie (Juliette Binoche), que ao perder seu marido – um conhecido compositor - e sua filha num acidente de carro, tenta libertar-se de tudo o que a prenda ao passado. Nesta tentativa de libertar-se, a personagem isola-se do mundo e quase chega ao suicídio. Mais tarde, através da música, ela redescobre um sentido em sua vida, voltando-se novamente a se relacionar com outras pessoas. A partir dessa ação é que a película abre o questionamento sobre o que seria “a liberdade” vivida por Julie.
A igualdade é branca (1994), o segundo filme, pode ser considerado o mais político e humorado dos três. Trata de temas como intolerância, multiculturalismo – já nos anos noventa e, logicamente, igualdade. Na trama, Karol Karol (Zbigniew Zamachowski) é um polonês que se casa com uma francesa, Dominique (Julie Delpy). O casamento acaba e Karol Karol, rejeitado por sua esposa e pelo tribunal francês, é obrigado a voltar a Polônia, escondido em uma mala. O desejo de Karol Karol é, por um lado, reconquistar sua esposa, e por outro, se vingar dela. Diferentemente de A liberdade é azul e do sofrimento contido de Julie, Karol Karol, em A igualdade é branca, toma atitudes, é obstinado, busca saídas para os problemas que lhe aparecem.
A conclusão da trilogia, A fraternidade é vermelha (1994), conta a história de Valentine (Irene Jacob), uma modelo que acidentalmente atropela um cachorro. Ela descobre que o dono do animal é o juiz aposentado, Joseph (Jean-Louis Trintignant), cujo estranho “hobby” ouvir as chamadas telefônicas dos vizinhos. A partir daí, Valentine e Joseph criam um laço de amizade, que os faz questionar e repensar alguns dos valores de suas vidas.
Kieslowski faz na Trilogia uma leitura crítica da Unificação Europeia e dos lemas que regeram a Revolução Francesa, questionando vários conceitos e discussões ocidentais, como a imigração e a igualdade. Assim, em Karol Karol, os direitos dos imigrantes não são tão iguais quanto parecem ser; o conflito subjetivo e com o outro também é uma tema corrente, especialmente em Julie, na tentativa de fugir de tudo o que lhe prende ao passado. Kieslowski recebeu vários prêmios com os filmes. A Liberdade é azul ganhou Leão de ouro em Veneza, como melhor filme e melhor fotografia e teve, ainda, três indicações ao Globo de Ouro - melhor filme estrangeiro, melhor música e melhor atriz. A Igualdade é branca recebeu Urso de Prata em Berlim. Já A fraternidade é vermelha ganhou Cannes, como melhor filme, o Cesar como melhor trilha sonora, e ainda foi indicado ao Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro. Foi indicado também ao Oscar, nas categorias de direção, melhor roteiro e melhor fotografia.
Kieslowski estará em cartaz no Sines, em dezembro, quando serão apresentados o filme A Liberdade é azul e Não matarás - este último, que compõe a série Decálogo, onde Kieslowski faz uma releitura crítica dos dez mandamentos. Os comentários dos filmes ficam por conta do Profº Jerzy Brzozowski.
Kieslowski - IMDb
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