sábado, 6 de novembro de 2010

A narrativa das ferrovias: a visão dos trabalhadores

Por Elton Carlos Piran, bolsista do Sinestésicos e acadêmico do curso de História da UFFS

O Sinestésicos desenvolveu com a comunidade acadêmica da UFFS e demais participantes da comunidade local um momento de diálogo com a participação dos senhores Glady Kerber e do senhor José Formica, tendo como tema a “História dos Trabalhadores das Ferrovias do Século XX”. O encontro foi dividido entre a fala inicial do Sr. Glady, seguida pela do Sr. Formica e acrescida de diversas perguntas de uma platéia atenta, mediadas pelo professor Luis Fernando Correa, da UFFS.

Glady e Formica

 Inicialmente, o senhor Glady, agente de estação ferroviário e telegrafista durante 36 anos de serviço e hoje aposentado com 50 anos de idade, afirmou a importância de debater a temática e lembrar os acontecimentos de antes, durante e depois da história das ferrovias. Ao mesmo tempo, relembrou as situações de dificuldades devido aos péssimos administradores da época, meios de comunicações precários e momentos de luta ocorridos no município de Marcelino Ramos -  na época, segundo Kerber, a malha ferroviária da cidade era o meio de ligação entre o Estado do Rio Grande do Sul com as demais regiões do País. Ao mesmo tempo, as alegrias, satisfações e principalmente determinação para vencer os desafios.

O ferroviário ainda afirmou que, durante a década de 1930, o Governo de Vargas deu início ao processo de reorganização das estradas de ferro através da promoção de recursos a as incorporou ao patrimônio da União. Assim, a responsabilidade pela administração ficou a cargo da Inspetoria Federal das Estradas – IFE. Estes investimentos foram decisivos para o desenvolvimento econômico e social de inúmeros municípios brasileiros. A efetivação da estrada de ferro contribuiu para o fortalecimento do comércio e para o desenvolvimento de indústrias, ao mesmo tempo em que acelerou o processo de urbanização.

Já a partir da fala do Sr. José  Formica, foi possível notar que somos herdeiros de uma cultura econômica que visa vantagens imediatas, marcada pelo “modernismo” ainda iniciado no Governo JK, que com sua política “desenvolvimentista” (consolidada em 1960) extinguiu em grande parte o funcionamento da malha ferroviária para desenvolver a indústria automobilística. Formica trabalhou na atividade mais desgastante da ferrovia, pois com enxada e machado precisava cortar as árvores e arrancar as raízes nos locais onde passavam os trilhos. Este trabalhador também refletiu sobre a falta de técnicas, na época ,para estudar o relevo por onde passaria a linha férrea; em conseqüência disso, muitas vezes encontravam lugares rochosos que dificultavam ainda mais o árduo trabalho.

Apesar dos altos investimentos para a expansão ferroviária no início do século 20 e o desenvolvimento que ela trouxe para diversas regiões, hoje os serviços de trem praticamente acabaram, dando lugar aos veículos que trafegam por rodovias. Contudo, hoje sabemos que o transporte ferroviário é mais ecológico por transportar a maior quantidade de carga e de passageiros e, ao mesmo tempo causa poucos danos ao meio ambiente, pois as ferrovias não têm influência na compactação e impermeabilização dos solos. Seja transportando carga ou passageiros o trem é um meio de transporte seguro, cômodo e de menor custo por quilometro percorrido.

Conforme o que ouvimos dos trabalhadores, constata-se que a memória ferroviária continua viva na tradição oral e ainda permanece elemento de resistência, como deixa clara a última frase do Sr. Formica: "A ferrovia não é pra dar lucro!"

Nenhum comentário:

Postar um comentário