Por Leonardo de Carvalho Prozczinski
O astro Bob Dylan, tido por muitos como um dos reis do blues e por outros como traidor, quando trocou o violão pela guitarra nos anos 60, mais uma vez aparece com um álbum em meio a conturbações e cerimônias. Aos 71 anos, o cantor lançou, em setembro, seu 35º álbum de estúdio, Tempest (2012).
Robert Allen Zimmerman, o Bob Dylan |
Assim como em seus predecessores, o ritmo é nebuloso e informal. Canções vêm e vão ao maior estilo country “dylanense”, que há algum tempo apresenta um vocal ainda mais rouco e arrastado, exaltando a caminhada que viveu no decorrer da carreira. Tempest possui dois lados bem explícitos: enquanto algumas faixas demonstram o característico charme irônico de Dylan, outras parecem apenas rodar em modo automático.
Seja qual for a causa, o humor do artista muitas vezes parece assassino. O primeiro indício de violência aparece logo no primeiro minuto, um pouco incongruente, durante o balanço alegre de Whistle Duquesne. O clipe da faixa exibe um rapaz que se encanta com uma moça na rua e leva surras enquanto corre atrás de sua paixão. A propensão do artista para a tragédia se manifesta durante a faixa-título, que narra o naufrágio do Titanic. A faixa transcorre por exaustivos 13 minutos, se tornando um buraco fúnebre sem fim.
No entanto, o brilhantismo de Dylan se mantém intacto em faixas como Scarlet Town, hipnótica e obscura, onde ele canta, em tom melancólico e rústico, “na cidade Scarlet, você luta contra os inimigos de seu pai / no alto do morro, sopra um vento frio”. Já Early Roman Kings evoca uma procissão ao mesmo tempo arrogante, divertida e perigosa, que faz lembrar os bons tempos de Highway 61 Revisited – segundo uma das contestadíssimas listas da Rolling Stone, o 4º melhor álbum de todos os tempos, e sua faixa inicial (Like A Rolling Stone), a melhor canção de sempre.
O álbum encerra com Roll On John, que punge com comentários sobre a morte de John Lennon, mas evita o sentimentalismo, sendo uma despedida bonita em meio a um clímax redentor, que é, no geral, a nova cara de Dylan.
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