Por Andrei Vanin
No sábado próximo, dia 5 de maio, às 14 horas, na UFFS, o Sinestésicos promove um debate sobre gênero, sexualidade e afins. Para entrar no clima desse debate, nada melhor do que falar sobre o filme francês Tomboy, lançado em 2011, e dirigido por Céline Sciamma.
O drama é um daqueles filmes simples: logo na cena inicial, assiste-se à câmera em um close-up no rosto de Lauren (Zoé Heran), uma menina de dez anos que se aquece ao sol enquanto parece flutuar no espaço por conta própria, parecendo fugir dos problemas terrenos. Ao voltar ao colo de seu pai e “ajudá-lo” a pilotar o carro, percebem-se os problemas de ser uma menina que chegou há pouco tempo em um bairro novo.
O pai (Mathieu Demy) mostra-se sempre ocupado e sem muito tempo para brincar com Lauren e sua irmã mais nova, Jeanne (Malon Levana), e ainda dar atenção para a esposa (Sophie Cattani), que está grávida. Lauren, ao ver crianças no pátio do novo condomínio em que estão morando, vai até lá para brincar e se depara com Lisa (Jeanne Dilson). Lisa, antes mesmo de pedir seu nome, pergunta se “ele” é novo ali. Para brincar e ser “aceito” no grupo de crianças do bairro Lauren se apresenta como Michel.
A partir daí a história reflete aspectos da constituição do sujeito e a relação com o gênero, com o cuidado de não generalizar, sentimentalizar ou manipular posições a respeito do tema. O fato de Lisa ter se “apaixonado” por Lauren parece não se abalar quando sua suposta identidade de gênero é exposta por sua mãe – como, por exemplo, quando a mãe obriga-a a por um vestido para ir pedir desculpas à mãe de um colega em que ela, Lauren, havia batido.
As dificuldades de estar em um bairro novo, sem amigos, a necessidade de brincar e "ser" uma criança transparecem no filme. Já a dificuldade de ser aceita em um grupo social por ser menina, parece sumir ao menos momentaneamente no decorrer da história, quando Lauren se apresenta como Michel. No entanto, é mesmo sobre dificuldades e preconceitos relativos à identidade (ou falta dela) de gênero, presentes no mundo contemporâneo, que se debruça com delicadeza a película de Sciamma.
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