Por Atilio Butturi Junior
Para fazer carinha de imperador chinês e
esquadrinhas, classificar, separar, hierarquizar e produzir verdade, ou
simplesmente para muito pessoalmente listar as coisas que mais tocaram na minha
vitrolinha nesse ano nada cabalístico de greve, suor & trabalho, uma
brincadeira de top 10. É preciso dizer que não estão por aqui só os mais ouvidos,
porque os tímpanos vezenquando buscavam as musiquinhas de outrora. Porém, de
algum modo estranho & peculiar, é sempre um jeito de lembrar o 2012 que se
esvai.
Leonard
Cohen - Come Healing: o Cohen é, pra mim, uma versão mais
turbinada e melhor do Dylan - mas é pra mim. Acho o álbum que ele lançou esse
ano, o Old Ideas, uma coisa primorosa. É mau, as letras são duras, tem
desesperança & redenção. Come Healing, lá dentro, funciona como uma
falso-bálsamo, que mistura a voz grave do Cohen com aquele coro que ainda se
precisa explicar. Classe classe.
Rufus Wainwright - Bitter Tears: o Rufus, depois de um álbum de que não gostei e depois de quase furar o Release the Stars, apareceu esse ano com um novinho e supostamente pop disco, o Out of Time. Ouvi, reouvi e fiquei com as manias de Bitter Tears, que é amarga e cruel como já se supõe pelo título. Só faltou o clipe que me prometeram.
Madonna
- Love Spent: sim, eu deveria negar & fingir que
não ouvi nunca sequer uma musiquinha. Sim. Sim. Sim. E pra todas as acusações.
A moça lançou em 2012 o MDNA, talvez o pior dos seus álbuns desde 1989. A moça
errou, lançou singles risíveis, chamou produtores duvidosos. Entretanto, porém
& todavia, lá pelos finais do álbum, com a mão ainda certeira do Orbit,
Madonnão ainda criou uma faixa espetacular, que mistura dance minimalista,
banjos e aquele som pesadão que detesto no cd. A faixa é Love Spent e não há
como não lembrar de que ela faz, mesmo no pop, um grande som.
Allo
Darlin' - Talullah: ninguém não se empolgou muito com o
disquinho, mas os anos 90 e o Belle & Sebastian ainda conformam meus
gostos. Talullah, musiquinha do meio do Europe - estranhamente a faixa sete,
que sempre prefiro -, é aquela muito doce: vozinha de moça e muito banzo "And it's been a long time/Since I've seen all my old friends"
Céu
- Eclipse Oculto: como eu gostei muito do Tributo ao
Caetano - porque prefiro ouvir versão do Beck a música supostamente nova e muito ruim -, é preciso uma menção
honrosa pra versão da Céu do Eclipse Oculto. Ficou completamente feliz &
tola, como a canção sempre deliciosamente pareceu.
Santigold:
The Riot's Gone: eu gostei tanto tanto do primeiro
álbum dessa moça (o homônimo, de 2008), de fazer dancinha & cantar alto, que
quando ouvi o Master of My Make-Believe fiquei assustado & intranquilo.
Como por onde eu ando não foi possível não ouvir compulsivamente o cd, acabou
que semi-entendi o que rolava e especialmente essa música, The Riot's Gone, fez meu gostinho clichê-balada-triste amar pratodavida
- e nem preciso dizer que é justamente a faixa sete.
First
aid Kit -Emmylou: as mocinhas do First Aid estavam no meu tocador há tempos e
nesse ano apareceram no iTunes com Emmylou. Bastou isso e baixou-se single,
álbum (The Lion's Roar) e por aqui houve gente que quase furou o disco.
Particularmente, gosto de Emmylou porque tem aquele intertexto folk-romântico,
com as vozinhas das suecas-quase-country, uma coisa pra lá de rica.
Father
John Misty- Now I'm Learning to love war: admito que fui ouvir
o álbum só porque: 1) O cara é do Fleet Foxes, que pra mim ainda é imbatível; 2) O nome dele é Joshua Tillman, o que já me parece um sinal; 3) Li umas coisas que afirmavam que se tratava de um puta cd, o que pra mim interessa. Então, o negócio é o seguinte: vai em qualquer das faixas e começa a chamar ela de verdadeiramente sua no momento seguinte. Para os climas bélicos desses finais de ano e de mundo, nada como a musiquinha de quem aprendeu a amar a guerra - a escolhida para a listita do Sines.
Jens
Lenkman - Every Little Hair Knows Your Name: fui apresentado ao moço em 2009 e
naquelas de não-gosto-muito-desse-estilo, deixei pra lá. O álbum novo, I know what love isn't (2012), eu ouvi
até que muito e acho a musiquinha de tolo, que fecha a produção - essa Every Little Hair... - , uma daquelas faixas que se guarda para momentos esquizoides
& obsessivos fundamentais.