sábado, 9 de outubro de 2010

Uma educação artística?

Por Atílio Butturi Jr.

       A Universidade Federal da Fronteira Sul - campus Erechim - iniciou hoje seu primeiro programa artístico-cultural, nomeado "Sinestésicos". O evento inaugural, "Da seresta aos festivais" ,foi capitaneado pela discussão dos professores Leandro da Costa e  Francisco Cougo Jr. ("Chico") que, via canção "popular "- Festivais e Teixeirinha- , provocou a todos a repensar js categorias pelas quais valorizamos e nos apropriamos da Música.  Foi justamente uma discussão similar que , no processo de desenvolvimento do "Sinestésicos",  nós da "equipe" docente responsável  estivemos sempre às voltas , questionando a legitimidade e a capacidade de transformação efetiva de uma empresa dessa espécie.

Da esquerda para direita: Leandro da Costa, Atílio Butturi, Ani  Marchesan, Gerson Fraga, Ilton Benoni, "Chico" Cougo Jr. e Dirceu Benincá (participantes, coordenadores e entusiastas do "Sinestésicos")
      Fundamentalmente, porque são muitos os programas que se pretendem "artísticos" ou "culturais", essas etiquetas tornaram- se caras à toda sorte de atividades oficiais/governamentais. Nesse cadinho, pode-se inventariar uma quase tipologia, cujo resumo seria uma cisão: de um lado, iniciativas expressionistas, que congregam uma diversidade de manifestações e não discutem as categorias das quais se valem - "cultura", por exemplo, ainda me parece algo similar ao que Caio Fernando Abreu (pra usar um gaúcho) chamava de "palavras grandes". Do outro lado, os empreendimentos que tangenciam a academia, oriundos de um discurso de problematização das instâncias de poder que constituem e fazem circular as já citadas categorias. 
      Nosso caso se pretende paradigmático da segunda opção: pensar "arte" e "cultura" discursivamente, requer uma orientação que reflita, a um só tempo, sobre os mecanismos de constituição das próprios conceitos de que nos utilizamos para nomear as transformações que o homem efetiva na natureza e, no limite, nosso entendimento de homem e da própria natureza.
     A "arte", nesse modelo, merece então não apenas contemplação e expressão subjetiva, mas um entendimento formalizado e, portanto, passível de educação. Em outros termos: se há um discurso e uma forma definidas para o artefato artístico, cabe à Universidade ( e a outras iniciativas) fomentar planos de ação que permitam a intelecção dessas regras - conforme chamava Pierre Bourdieu - para então, de posse delas, pleitear novos espaços nas trocas sociais/simbólicas. 
    Se, pois, podemos e solicitamos uma preocupação com "arte" ou com "cultura", é mister que a asseguremos com uma educação devidamente comprometida com uma transformação, segundo os moldes de um vértice sempre-já existente entre os saberes, os poderes e os sujeitos desses constitutivos. 

      É dessa perspectiva que agradecemos a presença de todos e provocamos os demais a participarem evetivamente das atividades de nosso programa.

2 comentários:

  1. A apropriação do discurso artístico-cultural por iniciativas oficiais/governamentais opera uma reterritorialização da arte e da cultura cujo efeito faz pensar na famosa metáfora de Zizek sobre o café sem cafeína, a cerveja sem álcool, a política sem política, a guerra sem sangue, a alteridade sem o Outro: a arte integrada ao fluxo produtivo é arte sem inquietação, sem transgressão, arte sem arte. Que, ao recuperá-la discursivamente, recolocando-a em seu entre-lugar fundador, o Sinestésicos nos faça correr todos os riscos que a arte é capaz de suscitar. Parabéns pelo trabalho! Gabriel.

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  2. Essa apropriação do Outro esvaziado de alteridade, de que o Derrida falava nos últimos textos, fatalmente passa pelo Sinestésicos. É sempre difícil fazer às vezes de Programa "oficial" e acadêmico e rediscutir as categorias que, de alguma forma, forjam a ideia de Universidade da qual fazemos parte
    De todo modo, queremos mesmo correr riscos e tentar iterar em cores diferentes...

    Valeu o apoio e a leitura.

    Atílio - um dos sinestésicos.

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